domingo, 4 de novembro de 2018

Sociedade democrática e tecnologia

Estou escrevendo este artigo de opinião antes das eleições (comecei quando fui dar uma palestra sobre o tema em Severínia em 28 de setembro, o retomei em 26 de outubro de 2018, às 22h52min, o finalizei em 27 de outubro às 0h58min), pretendo o publicar posteriormente, para não ser reduzido a um compreensão tola e maniqueísta: direita x esquerda, ou, ainda mais tola, bolsominion X petista.


A tecnologia da informação e comunicação emergiu nos últimos 30 anos como o tipo de tecnologia mais importante para sociedade contemporânea. O autor Pierre Levy, escreveu um livro chamado Cyber Cultura, o li quando ainda era aluno da FFLCH, e o Manuel Castells, um dos filósofos que eu mais leio e releio, escreveu a “A Galáxia Internet: reflexões sobre a Internet, negócios e a sociedade", ao meu entender ambos com muito otimismo.

Por isso mantenho um certo otimismo com a revolução tecnológica da internet, creio que ela está passando por um fluxo reacionário, mas a cultura da liberdade e dos valores humanos universalistas da democracia prevalecerão.
Em três tempos a revolução em curso:


  • Anos 90, apenas um colega meu, de alcunha Tizim, um dos sujeitos mais inteligentes que já me deparei, conhecia a internet e tornou-se cientista da computação. Era um mistério, internet, “naquela época a internet era tudo mato,” os computadores eram plugados nas madrugadas ao telefone e ficava caríssimo. No Brasil somente o pessoal de um conhecimento muito específico tinha poder de usar.
  • Nos anos 2000, eu ouvi falar de comitês da democratização da informática. Na USP participei do Grêmio Treina Micro, em que os jovens de uma comunidade carente da São Remo  montavam computadores, mantinham uma oficina de informática e davam aulas de informática (pacote básico do office).Eu mesmo criei uns cinco blogs, desde vila bol, até o blogspot (e aqui estou), sobre história, história de Olímpia, meu mestrado. Fiz um curso no MAC-USP, no qual a Professora Daisy Peccinini nos dizia da democratização da arte, que iria sair da torre de marfim, assim como todo o conhecimento, graças à informática. No máximo cem pessoas liam o meu texto e atentamente, liam e reliam, um ou outro colega até comentava, mas se o comentário fosse desabonador, ou outro questionamento, o fazia por e-mail ou pessoalmente.

  • Nos anos 2010, as redes sociais se proliferam com a tecnologia móvel, todos têm não apenas internet, têm potencialidade de comunicar-se rapidamente em seus grupos, uma espécie de endocomunicação, que não só é interna, mas como internaliza nas pessoas, criando bolhas sociais e ansiedade social. Os conteúdos apelativos emocionais, emotions e mimético memês,  convencem mais do que este longo texto, ou qualquer pensamento um pouco mais estruturado. As redes sociais conduziram o potencial emergente, avassalador e libertário da internet para fluxos determinados, induzindo pensamentos, segregações, não apenas de acordo com os interesses de nichos de mercado, mas também em nichos de manipulação social para reserva de mercado e melhor exploração. Em 2012, quando comecei lecionar sobre sociedade e a tecnologia, explorei com os meus alunos um vídeo, que eu perdi a referência, mas que trazia a máxima: "No facebook o produto é você! " Hoje, estamos nas redes socais diversas como whatsapp, snapchat, instragram. Se nos anos 2000 navegamos em mar aberto de liberdade, com os riscos dessa aventura, nos anos 10 do século XXI  estamos como peixes em viveiros, nos canibalizamos sem ao menos notar que aquele que nos prende pretende nos devorar.
A democracia representativa não atende completamente o atual estágio da tecnologia da comunicação  e da sociedade. Houve facilmente o mau uso da tecnologia da informação com a velha fofoca: manipulação da propagação de ideias baseadas na ignorância absurda e, por absurda, mais forte (Pense como um fofoca se alastra: _ Mesmo se for mentira, a dignidade da pessoa já foi abalada). Nas redes socais os emotions, os memes, as fakenews, as piadas, as montagens nos convencem por emoção, nos capturam nessa emoção, ainda que seja mentira, nós propagamos e defendemos a nossa inteligência, numa suposta neutralidade revestida de humor e forjamos nosso caráter. Assim, a pessoa até sabe que é mentira, mas ela mantém a sua convicção (dogma), pois muitos dos seus valores baseados em mitos, diante da contradição, lança um outro mistério e nunca se preocupam com a verdade ou a coerência
Vi outra uma coisa estranha, o conservadorismo entre os jovens. Tento entender, uma vez que os jovens sempre contestam o status quo, quem esteve no poder foi a democracia representativa, ela agora padece das críticas e não parece ser um valor que  faça sentido para o jovem defender, nem a justiça social, nem a igualdade (objetivos da democracia, mas que não foram alcançados). As mudanças sociais são as que refletem a cultura propagada na comunicação em massa e turbinadas nesse tipo de comunicação em massa que são as redes sociais.
Tentei não apenas nesta eleição, mas em outras situações comunicar-me com os políticos sobre temas da minha comunidade, por meio de redes sociais e e-mais, sem sucesso. Os políticos precisam ficar atentos a isso. Os eleitos precisam fazer parte dessa transformação e não tratar o povo como gado conduzidos nas redes socais. Precisamos do protagonismo da democracia participativa e com a interatividade da nova forma de comunicação isso é possível.
É com este blog, com esta postagem que prefiro refletir para poder agir em meio a isso tudo. Temos um grande potencial na comunicação computacional em rede, podemos ver os gastos dos governos, fazer petições on-line, averiguar duas posições opostas e encontrar uma síntese, podemos estudar mais, ver mais filmes, mais peças de museus e obras de artes significativas, reflexivas, humorísticas e denunciar abusos para além dos muros das redes sociais controladas, além das velhas mídias já negociadas.