Nós nascemos sem regras, sem nada que vá delimitar a nossa vontade e desejo, ainda que na infância até os cinco anos nós criamos e aceitamos condições para sociabilidade, como esperar a vez, segurar o choro, segurar até as necessidades fisiológicas (se você faz cocô e xixi descontrolado isso te impede de brincar), é dos cinco anos em diante que as brincadeiras ficam mais complexas e nos interessamos mais em brincar com os outros, dentro de determinados regras e determinados jogos, por isso jogos são tão importantes.
A moral nos é embutida por regras com sanções e premiações na vida toda, bem como nos é imbuída pela idealização de um herói modular exemplar, em suma regras ensinam e exemplos arrastam.
Os jogos virtuais interferem na constituição moral das pessoas sim! Mas, muito mais de maneira positiva, pois nos ajuda com a cognição e aceitação das relações éticas e menos relacionados a psicoses. Os jogos são utilizados para educar e inclusive para educação escolar com sucesso.
Os jogadores de vídeo - game são concentrados e resilientes, pois eles têm que superar dificuldades, várias vezes, com diferentes estratégias, sentindo-se cansados, frustrados para depois ter a satisfação de dever cumprido, em total consonância com os valores da nossa sociedade.
Ainda que os personagens dos jogos são esteticamente feios, usem armas, isso faz parte do enredo e do marketing que responde a essa estética que tem aderência com os outros valores da sociedade. Os heróis ficcionais são modulares exemplares, mas eles estão em um âmbito fictício, que mais nos lembra da nossa impossibilidade de realizar, do que de ser e fazer como eles. A influência de personagens fictícios é bem menor do que a dos reais, em verdade é um escape da realidade. Por isso, culpar os jogos pela chacina de Suzano é muito ligeiro.
A realidade expressa e reconfigurada nas redes sociais tem mais influência sobre os assassinos do que os jogos. As redes sociais, os comentários abertos de jornal, os fóruns de discussão tem criado um clima de guerra, ou, um clima contrário a paz social mais facilmente relacionado com a chacina de Suzano do que os jogos. Sendo muito mais influente sobre as crianças e adultos as correntes de teoria da conspiração das redes socais e dispositivos de comunicação em massa do que os jogos violentos, de terror, ou ainda filmes e músicas.
Certamente tais obras de arte para consumo (vídeos-games) são complexas e manipuladoras da emoção, quanto mais medo e maior o desafio, melhor o jogo, porém o jogo você desliga, reinicia, desinstala, mas o ódio propalado e as teorias de guerra de todos contra todos das redes socais não tem como você desligar e controlar.
Os assassinos da escola de Suzano se inspiraram em monstros reais propagados, defendidos, mistificados e idealizados pelas redes sociais. Muito mais próximos da nossa realidade do que os jogos de realidade virtual.
Rafael dos Santos Borges, professor de Ética, Metodologia, Sociedade e Tecnologia, mestre em sociologia da educação, doutor em educação: currículo, novas tecnologias.
Referências de Leitura:
PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.
____________. O julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jon, 1977.
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