quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Índio bom é índio morto


        Os cronistas europeus da época em que tiveram os primeiros contatos sistemáticos com os indígenas, narravam que esses consideravam os europeus, amigos ou inimigos, conforme fossem tratados: amistosamente ou com hostilidade. Essa visão de docilidade e imagem de índio bom é submisso, prevalece, mas o índio não é sujeito de direito.  
       Com o passar do tempo essa relação sofreu alterações, por exemplo, com a instalação do Governo Geral, em 1549, intensificou-se a escravidão dos indígenas nas diversas atividades desenvolvidas na colônia, gerando constantes conflitos - O mais famoso foi a Confederação dos Tamoios (1554-1567). 
        Mas a narrativa mística e ideológica (por isso mentirosa) das raças harmoniosas, dentre elas a do índio, nativo, gentio, cativante e indolente, não resiste a um olhar sobre a demografia do Brasil. Houve um genocídio,  porém romantizado ao ponto de ser naturalizado e estar, agora, em curso pleno. A Nação acha que está tudo bem, pois esse é o papel que cabe ao índio, imortalizado em Museu, restrito a reserva, ou simplesmente morto.
         Acredita-se que cerca de 3,5 milhões de índios habitavam o Brasil na época da colonização. Dividiam-se em quatro grupos linguístico-culturais: Tupi, Jê, Aruaque e Caraíba, segundo os Jesuítas, hoje (IBGE, Censo 2010), existem:

  • Total de indígenas: 817 mil
  • Etnias: mais de 300
  • Línguas: 274
  • Isolados: 82 referências; 32 confirmadas.
Mesmo depois de cinco séculos, os índios brasileiros permanecem sendo um mistério para o homem branco-europeu-invasor-dominante. Não se pode afirmar com certeza de onde vieram, embora a teoria da migração via estreito de Bering continue sendo a mais provável - mesmo tendo perdido a primazia e, principalmente, a exclusividade. Quando teriam chegado à América também é assunto ainda polêmico: 12 mil, 38 mil ou a 53 mil anos atrás? Ninguém sabe ao certo. 
A relação entre os brancos e os índios foi marcada por escravidão, submissão, conflito, extermínio, resultando no maior genocídio conhecido da história.
Até o século XX o contingente populacional indígena, caboclo, tradicional era significativo. Porém, o indígena de fato sempre foi tratado como empecilho:

Dos primeiros anos da colonização até a Lei de Terras (séculos XV-XIX) ocorre uma destruição radical das populações originárias, bem como a dispersão e diversas formas de migrações compulsórias, produto da expulsão de seus territórios. A Lei de Terras exerceu a função de institucionalizar formas de expropriações. Os povos que resistiram e adentraram os sertões e outras regiões de difícil acesso no país, durante o século XX, continuam ameaçados com os avanços de formas de exploração capitalista no campo. Os processos constantes de expulsão de indígenas levam-nos a compor uma massa de trabalhadores espoliados e em condições de extrema precariedade, seja nas pequenas ou nas grandes cidades. (SILVA,2018)

       O excerto acima faz parte de uma pesquisa acadêmica desenvolvida por uma indígena. Nele com muita sensibilidade e poder de síntese se resume que o índio vale menos do que terra, é é coisificado, valendo menos que gente.
      Na contemporaneidade da Nação republicana independente, foi criado no SPILTN - Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (1910) e posterior SPI – Sistema de Proteção ao Índio (1918), tais serviços estavam ligados aos ministérios e órgãos que tratavam das questões fundiárias,  com isso já denota que a questão da posse da terra, ou da capitalização da terra estava sobre os corpos e a vida dos indígenas.
        A Funai foi crida em 1967 papel de integrar os indígenas à sociedade dominante sob a tutela, dentro de uma relação paternalista e intervencionista, com ações assistencialistas de assimilação das sociedades indígenas, gerando uma macula de visão segundo o qual os indígenas devem ao branco submissão e estão em estado de dependência.
      A política indigenista no Brasil é ambígua, pois tutela o índio, restringe à reserva, de fato busca o proteger, porém, os indígenas não tem voz, quando reclamam são marginalizados e desapropriado do lugar de fala. A reserva traz em si o dilema de se revelar gueto, campo de concentração e oásis de proteção,  garantia de vida mínima. 
       Hoje 2018/2019 nota-se um aumento do genocídio, que está em curso, acentuando-se desde 2013, mas com aumento de 20% desde o ano passado. Em 2018, segundo o Conselho Indigenista Missionário (citado em reportagem do G1Natureza, listado abaixo), além dos 40% de aumento de conflitos em dados preliminares de 2019.
       Portanto, ouça o silêncio sobre o genocídio em curso no Brasil das populações indígenas. Silêncio esse causado pela ânsia sobre a terra, uma visão egoísta, atrasada e unívoca, por isso autoritária, de que a terra deve estar disponível para a mesma forma de exploração que os brancos europeus vivenciaram. A Nação deve saber respeitar e conviver com as outras nações internas, os brancos têm a maioria da população, do território e do poder econômico, deve a nação branca, reserva-se a viver como está, sem querer desapropriar, avançar, deve a Nação branca pensar em si, antes de se impor ao outro.
Segue também, uma série de imagens de um slide retirado do site do senado sobre a temática aqui exposta.

Referência Bibliográfica:
SILVA, Elizângela Cardoso de Araújo. Povos indígenas e o direito à terra na realidade brasileira. Serv. Soc. Soc.,  São Paulo ,  n. 133, p. 480-500,  Dec.  2018 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282018000300480&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  07  Nov.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.155
Link e Reportagens:
https://www.instagram.com/tv/B4pQMCRhuLf/?igshid=1ula1n1temf1k































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