Mudanças em leis devem ser amplamente debatidas e contemplar os equilíbrios das partes e das relações, pois mudanças em leis são contra sensos, leis deveriam ser regras sólidas.
Essas reflexões são
importantes, os advogados podem contribuir melhor para o debate.
Assim nossas considerações
sobre a polêmica em torno da polarização entre a lei do estágio e a carteira
verde amarela será um resgate histórico.
Antiguidade: Os grandes embates
entre os legisladores gregos na Antenas antiga tratavam de polêmicas sobre
relações de trabalho, logo de início, sendo o ponto polêmico a escravidão por
dívidas. As Leis de Drácon, século 620 a.C. que deu origem ao termo draconiano,
que descreve quando uma lei é muito dura e penaliza mais os mais pobres, uma
vez que quase tudo era punido entre os plebeus e escravos com pena de morte e
punia as dívidas, com a escravidão. As relações entre trabalhadores e os
detentores de "capital" (anacronismo, desculpe) resultaram de leis
que destituía do trabalhador ao menos a liberdade. Pois bem, tais leis não
regularam com êxito as relações, tampouco regularizaram o conflito, e aqui o
que nos interessa, a escravidão por dívida foi revista, em uma "reforma deLeis" de Sólon, que abrandou as Leis de Drácon, proibiu a escravidão por
dívida e impôs limites à concentração de terras, pressionado por radicais,
ameaçados por aristocratas, Sólon preferiu sair de Atenas. De qualquer maneira
o debate político sobre leis e o trabalho tornou-se uma marca de nascença
da democracia.
Brasil Varguista: No Brasil
Getúlio Vargas, em primeiro de maio de 1943 por decreto lei (5.452), tenta
pôr fim a conflitos que existiam nas cidades e indústria desde 1910 e no Brasil
rural, emudecidos pela tradição escravista, mas existente a bastante tempo.
Esse primeiro conjunto de leis sobre o trabalho, teve inspiração fascista e foi
usado pelo governo autoritário de Vargas o Estado Novo, para controlar as
massas, ao mesmo tempo que atendeu reivindicações de regulamentação das
relações pelos trabalhadores.
Esses dois tempos históricos
servem para ilustrar, que há tensão em cada lei nova ou consolidada sobre as
relações trabalhistas.
O Debate sobre a Lei do
Estágio versus Carteira Verde Amarela revela muito mais a
tensão do que contradições sobre as leis.
A Lei do Estágio (11788 de2008), regulamenta as relações entre empresas, escolas (sobretudo faculdades) e
estudantes para atender a uma demanda de formação de mão de obra qualificada,
parcerias entre universidades - pesquisas e empresas - inovação.
A lei do Aprendiz A Lei do Aprendiz,
também conhecida como Menor Aprendiz, Aprendiz Legal ou Jovem Aprendiz, é uma
lei do Brasil aprovada em 2000 e regulamentada em 2005. Ela determina que toda
empresa de grande ou médio porte deve ter de 5% a 15% de aprendizes entre seus
funcionários. regulamenta uma relação entre as empresas e os jovens, para
atender duas demandas, a inserção dos jovens trabalhadores menores de idade no
mercado de trabalho, com a obrigatoriedade da inclusão e permanência na escola,
mas a escola não faz o intermédio da relação.
A Lei doMicro Empreendedor Individual, Lei Complementar de 2008, atende outra demanda,
a da regularização fiscal, tributária e previdenciária de trabalhadores
informais, ao mesmo tempo que era uma estratégia de inclusão previdenciária,
também significava uma desoneração dos contratadores esporádicos e outras
formas diversas de relação trabalhista, muito mais individual, de profissões
liberais, como as ligadas a tecnologia da informação.
A Reforma Trabalhista no Brasil de 2017 foi uma mudança significativa na
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) instrumentalizada pela lei № 13.467 de
2017. O objetivo da reforma foi combater o desemprego, desonerar
setores produtivos e permitir que o "contratado"
"prevaleça" sobre o "legislado," regulamentado os
acordos entre patrões e empregados.
Agora a
Medida Provisória que instituiu a "Carteira Verde eAmarela," cria uma modalidade temporária de contrato de
trabalho, assim como alterar a legislação trabalhista, para incentivar a
contratação de jovens entre 18 e 29 anos excluídos do mercado de trabalho, que
nunca tiveram um vínculo empregatício, por meio de desoneração previdenciária,
incentivos ficais, mas são contratos, como o de estágio, que não deve
ultrapassar dois anos, mas diferentemente da lei do estágio, a jornada é de 40
horas, com possibilidade de horas extras, com teto, limite máximo de salário em
1497 reais.
Assim, a Carteira Verde e Amarela trata da relação entre uma
população excluída, que terá uma inserção incentiva, no mercado de trabalho,
mas ela não trata sobre aqueles que buscam qualificação para o trabalho e
inserção como mão de obra qualificada.
Qualquer outra consideração pode ser precipitada...
Prof. Dr. Rafael dos Santos Borges.